domingo, 31 de dezembro de 2017

Passagem

O tempo passou e ainda está.
Pra onde me levou?
Que outra história me trará?
O tempo me contou que não dá tempo de esperar.
Que a espera é fulminante pra quem tem pressa de sonhar.
Num estalo, tudo muda.
E a coragem de mudar?
E a força pra encarar?
Hoje mesmo o tempo me disse que hoje é tempo de dizer.
de recomeçar,
de retomar,
de acreditar.
Quando a gente perde tempo é difícil de encontrar.
Ele nunca volta pra onde a gente tá.
Depende da gente.
Depende da gente aprender a domar o tempo. Sem pressa e sem pausa.
O Agora.
O tempo desafia teu futuro.
Teu amor.
Tua coragem.
Porque depois não serve mais.
Quando se vê, já foi.
Por isso cada segundo é um segundo único e só.
As chances são de ouro,
Ou você agarra,
Ou deixa virar pó.


terça-feira, 28 de novembro de 2017

Da janela

Tu já sentiu o cheiro da noite?
O cheiro do prata da lua?
Tu já viu o invisível na escuridão inalcançável de uma noite?
Apertou seus olhos num Horizonte que não sabe se existe?
Tu já escutou as estrelas? Já escutou teus pensamentos numa madrugada de silêncios?
As vezes eu boto a cabeça pra fora do quarto e ponho a mente pra dentro do mundo. Atento os sentidos pra tentar sentir o que não se percebe de dia.
Sempre que me debruço na janela eu vejo um brilho entre os prédios lá de longe. Tão longe que ficam pequeninos. Um brilho que só brilha a noite.
O brilho é um treco comprido que pisca dourado. Eu nunca soube o que é. Fica ali na direita atrás do poste e da antena. Ele pisca toda noite. De dia, nem existe. Eu não sei o que é, mas também não queria saber... Vai que sabendo, de repente ele deixa de ser. Deixa de ser a vareta pisca-pisca, deixa de ser o edifício que se mexe, deixa de ser um mistério.
Não! Muito obrigada. A noite tem sua graça, seus segredos e suas adivinhas.
A noite brinca comigo de esconder.
E eu, brinco com a noite de mostrar. É ela quem sabe de tudo que carrego no peito.
Em troca a dona noite se faz bela e assim, de brincadeira, sem querer faço poema...


segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Crônicas da madrugada #3


- Você tem coragem?
- As vezes... Sabe, eu ac...
- Sei. (e me olhou tão lá no fundo que eu me senti como se não vestisse nada)
- Sabe?
- Sei. (uma pausa sustentada por fatos de alma. Desviou o olhar. Agora observava o sol laranja, quase sumindo no horizonte.)
- Se sabe, por que ainda tem medo?
- Porque coragem não basta! (jogou um graveto longe.)
Fiquei em silêncio...
...
...
- Que difícil.
- É. (eu olhava uma formiga perto dos meus pés, que balançava suas anteninhas e pouco se movia)
- E agora?
- Agora não me preocupa. Me preocupa o depois.


segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Saudades de papel

Hoje ecoou em minhas lembranças seu rosto corado na primeira vez que eu te chamei de "amor". Em seguida me vieram as tantas outras faces sorridentes que você insistia em fazer mesmo depois de tanto tempo ouvindo-te ser amado.
Sexta passada fez uma noite bonita de calor e quando eu me debrucei na grade do jardim eu quase senti teu beijo em minha nuca descoberta, como você fazia sempre.
Te vi de relance em um pensamento adormecido, aquele em que cobríamos a parede da sala ainda vazia com poesias conjuntas.
Por alguns instantes eu podia jurar que nunca acabou. Por alguns outros, eu quase tive a certeza de teria sido melhor assim.
Sacudi a cabeça como quem espanta pensamentos-voadores.
Saudades de papel.


terça-feira, 8 de agosto de 2017

Crônicas da madrugada #2

Eu mantinha os olhos fechados, distraída. O silêncio ocupava todo o espaço de forma confortável e eu sentia uma brisa muito leve tocando minha pele... Já era fim de tarde e os últimos resquícios de sol aqueciam o cômodo.
- Você ainda nos ama?
Despertei.
- Que?
Mas eu havia ouvido bem.
- Você ainda nos ama?
Pisquei algumas vezes e vi aquele par de olhos me encarando, aguardando.
Parecia que algo em meu peito começava a dar um nó.
Como as pessoas são capazes de exigir uma resposta tão generalizada pra algo tão infinito?
E então os olhos se desviaram dos meus e se voltaram ao chão.
Me aproximei devagar. Dei-lhe um beijo em sua nuca, abracei-lhe pelas costas e segurei suas mãos. Fiquei em silêncio ouvindo sua respiração. Recebi um afago de dedos. Um suspiro.
- Não. Eu "ainda não nos amo" mais.
A frase soou estranha, notamos logo.
- Dizer que "ainda" nos amo, seria dizer que ainda mantenho hoje o amor que sempre senti por ti.
Os olhos voltaram a me fitar, confusos.
- Eu nos amo. Mas não é um "ainda". É um diferente. Os dias são outros. O amor também...
Os olhos não pareceram contentes, mas também não pareciam surpresos. Sabíamos que tudo havia mudado tanto quanto sabíamos que algo permanecia intacto. No fundo sabíamos que era tarde demais pra recuperar o que se perdeu, mas também sentíamos que todo o reencontro trazia o ar de nova chance.
Algumas histórias não tem continuidade, mas possuem inúmeros capítulos pra adiarem seus fins. Isso nem sempre é o suficiente, mas as vezes é inevitável.


domingo, 23 de julho de 2017

Crônicas da madrugada

- Teu olho...
- O que tem?
- Ele fala.
- Ah é?
- É.
- E você escuta?
- Escuto. Mas nem sempre entendo.
- ...
- Ó aí de novo.
- O que?
- Falou.
- Falou o que?
- Não sei. Só ouvi.
- ...
- Do que você tem medo?
- De aranha.
- Eu também. E de lagartixa.
- Eu gosto de lagartixa.
- Eca.
- Um dia eu sonhei que uma lagartixa tocava piano...
- Eu toco piano.
- Tá vendo, você tem mais em comum com lagartixas do que pensa!
- Deus me livre! Só de ver uma eu fujo.
- Eu gosto.
- De fugir?
- Não, de lagartixas e de pianos.
- E por que foge?
- ... Não sei.
- Eu sei.
- Como sabe?
- Seus olhos me contaram.
- Fofoqueiros tagarelas.
- Pois é. Delatam o coração na cara larga.
- Sempre o fazem.
- É por isso nem sempre entendo o que eles dizem.
- Por causa do coração?
- Por causa da confusão.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Ninho

Hoje me dei conta da falta que faz um abraço.
Dos corações colados, dos braços emaranhados, da cabeça recostada.
A falta que faz uma companhia, um amigo, um sorriso.
Me dei conta que há tempos eu não abraço. Um abraço de verdade, sabe? Aquele abraço-imã, apertado, que alivia o peso de mil vidas, abraço-alma, abraço-casa, abraço-asa...
"Por quê?"
Hoje eu acordei sozinha. Casa vazia. Acho que por isso tirei o dia perdida em pensamentos.
Assisti uma série na TV e nela dois personagens quase se abraçaram... Não me leve a mal, mas um quase abraço é pior que abraço nenhum. Entendem o que eu digo? Aliás, todo "quase" é incômodo demais pra mim...
Gosto do que é inteiro, que transborda, que esquenta, que ilumina, que explode, que transforma. Inclusive, abraços.
"Cadê?"


segunda-feira, 3 de julho de 2017

Pensamentos-nuvem

Sempre durmo de janela aberta. Não tenho cortinas. Só o vidro que (não) me separa da visão do céu.
Hoje era uma noite nublada e eu deitei virada pro armário.
Já fazia 2 horas que eu estava cismada em um pensamento.
Já aconteceu com vocês?
Quando cabeça empaca em um devaneio e de lá não sai até o sono tomar conta?
Pois então. Exatamente isso. Engraçado como a mente voa... Mas aí o quarto inteiro se iluminou.
Quando eu viro, lá está a bendita da Lua, se esquivando do mundaréu de nuvens.
"Boa noite pra você também", sorri.
É inevitável: sempre que a Lua aparece aqui, lá vou eu me debruçar no parapeito feito Julieta que tem seu Romeu no céu!
Não tinha nem 3 minutos de conversa e uma nuvezona cobriu a tigela de leite flutuante (sim, hoje a dona bonita tava parecendo isso).
Ventava muito, muito mesmo e as nuvens se agrupavam e se dissipavam, rendendo alguns gatinhos, um submarino, um elefante, um garfo torto e um sapato.
Uns minutos depois Ela voltou. Mas já estava bem mais baixa e amarela. Agora parecia metade de um queijo meia cura no-meio-do-meio do céu.
Em um olhar, contei pra ela sobre meu monólogo mental de duas horas. Ela me encarou de volta por alguns longos infinitos e entre esse brilho de Lua e brilho de olhos, eu já não sabia quem ouvia o brilho de quem. Suspirei.
Mas o céu não já não suspirava mais. O vento agora havia cessado. As nuvens pareciam apenas nuvens.
Não havia mais gatos, nem garfos. No máximo, um tapete sem graça acinzentado.
A Lua sorriu pra mim... Do ladinho, Júpiter deu uma piscadela. Veio aquela assimilação que só acontece depois de uma meia noite enluarada...
O vento brincava de criar. A nuvem brincava de mudar. E quando tudo para, a graça acaba.
Percebe?
O vento também nos sopra a vida. Nos arrasta do inerte, nos desperta do cômodo, nos exige reação imediata e nos transforma em algo além de um tapete cinza empoeirado. Às vezes parece que a luz some em meio às mudanças, mas a dona Lua tá ali, nos guardando do Universo, esperando a melhor parte de nós.
Falando nela, depois de tanto papo agora ela já estava bem baixa, pronta pro boa noite final.
Bem dourada e enorme. Lá no horizonte... Hora do Pôr de Lua.
Ela sabia que eu já tinha sacado e que agora eu poderia dormir sem gastar minhas horas mantendo a mente em lugar nenhum.
A Lua foi indo embora e eu podia jurar que cantava pra mim!
Prendi a última fagulha dourada na minha íris e fechei os olhos com força pra poder visitar os sonhos lunáticos naquela noite.
Fechei o vidro, me enrolei em edredons e ainda de olhar apertado notei o silêncio de uma mente sem pensamentos empacados.
Ri aliviada.
"Durmam bem, até amanhã"

Foto real da Dona Lua aqui da janela do meu quarto 🌙

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Enfrente

Eu ouvi dizer que tempestades passam, que a gente aguenta o tranco e quando menos percebe, já se esqueceu.
Me disseram que a solidão é inevitável pra que a gente perceba quem é de verdade e também aconselharam-me a ficar atenta ao que me falam sobre o amor.
Tenho aprendido que a grande felicidade consiste em um apanhado de pequenas alegrias e de um pouco de otimismo frente às dores.
Passei a enxergar pessoas como pequenas peças de um todo bem maior que eu, bem maior que tudo que conhecemos. Isso tem gerado um enorme respeito à cada história e uma compreensão de que as pessoas não me pertencem, que é do direito delas irem embora, assim como é do meu seguir novos rumos. E que nem sempre é um direito. É apenas uma escolha. Ou as vezes, a falta dela.
Eu percebi que a gente não sabe a força que tem até o momento de precisar ser forte de verdade.
Eu sigo.
Mesmo sem saber pra onde eu vou.
Eu continuo, nem que seja no escuro.
Porque eu aprendi a desconfiar, mas eu nunca deixei de acreditar.


sábado, 10 de junho de 2017

Reabilitação afetiva

Perdi a lucidez. Cedi àquele calor inquieto e sem sobriedade. Recaí. E foi então que lembrei do porquê se faz urgente se livrar do vício em alguém.


sexta-feira, 26 de maio de 2017

A gente nunca sabe quando vai ser tarde demais...

À você que ama, eu lhe peço um favor:
Mesmo em tempos difíceis,
Mesmo durante uma fase complicada,
Não deixe de demonstrar e dizer que ama.
Nunca deixe dúvidas sobre o teu amor.
Que você chegue ao fim do pior dia e ainda assim seja capaz de dizer "eu amo você" e que de volta receba um "eu te amo também".
Amanhã as coisas se resolvem.
Depois de um respiro as coisas se encaixam.
O que não se recupera é o tempo que se passou, deixando o rastro da dúvida.
Pois não há nada pior do que enfrentar desafios sem se sentir amado.
É devastador ter que carregar um peso no peito e junto a isso, a dúvida da reciprocidade...
Se você ama, diga. Senão cedo ou tarde, o orgulho se encarrega de tornar as distâncias irreparáveis.

sábado, 15 de abril de 2017

A tal da indiferença

Tu me dizia "tô com saudade", mas nunca aparecia, e eu percebi a quantidade de muralhas que eu construí pra me proteger das tuas idas e vindas - ou melhor - das tuas ausências.

O peito que afunda a cada ficha que cai...
"Eles tinham razão?"
"Você sabia que promessas não cumpridas são como mentiras mal contadas?"

Ainda assim, a gente quer acreditar.
E de novo e a gente volta a fingir que nada aconteceu.
E de novo acontece.
E de novo a gente finge.
E de novo.
De novo.
E de Novo mesmo não tem nada nesse ciclo vicioso.
E por você tudo bem.

Mas eu tenho fragmentado a saudade em pequenos pedaços. Pedaços minúsculos o suficiente pra eu conseguir enterrá-los em desertos onde não quero mais estar. Pedaços tão pequenos que vistos assim, nem parecem o monstro que são.

Tem sido questão de tempo.

Quando tu fala de saudade, eu já não acredito mais.
Cada vez que tu não vinha,
eu sentia menos falta de você.

Eu sinto muito.
Sinto demais.
Sinto o tempo todo.
E finalmente passei a sentir o que você sente também. A tal da indiferença.
Porque palavras são lindas, intenções, admiráveis. Mas nada supera a verdade dita nas atitudes de alguém.




sábado, 8 de abril de 2017

Invencionices e aflições

Custei a dormir,
quase amanhecia quando
finalmente o fiz.
Pouco durou.
"TRIIIIM!"
Desperta-dor.

sábado, 18 de março de 2017

Desapego


No meio do reboliço, me escapuliram duas ou três frases que antes eu trancava quietas em pensamento.
Parei imediatamente. Encarei-as na minha frente, materializadas em alto e bom som.
Os falatórios barulhentos continuaram, mas eu apenas parei. Percebi que eram palavras que eu havia dito pela primeira vez, apesar de não serem novas pra mim.
Estava surpresa. Em realidade eram muito menos caóticas do que em minha mente.
Era quase meia noite quando as estrelas reapareceram num lampejo de íris.
O peito estufou e o passo acalmou
"Então é isso?"
Uma leveza concedida à consciência
E uma sutil sensação de desobrigação...

Era aquela saudosa sensação de recomeço
Que dava vida nova à qualquer destrutivo ponto final.


quarta-feira, 15 de março de 2017

domingo, 5 de março de 2017

Margaridas Douradas

Me fiz silêncio.
Silenciei tudo.
Como estão as coisas aqui em casa,
Como estava minha correria,
Como tinha sido meu dia.
Eu calei os gritos que quis dar quando descobri o que você não dizia.
Eu fingi que as coisas continuavam do jeito que você deixou.
Eu evitei o máximo que pude.
Até que notei que meu esforço em silenciar era na verdade uma rotina daquele que não tinha nada mais pra me dizer.
Que insensatez assumir os remos de quem já desistiu de navegar.

Tudo isso pra que?
Pra acabar enfim.
Eu tentei dizer.
E aí eu vi que a única incomodada era eu.
Pois bem.
"Estes, que se retirem então."

- Margaridas Douradas -
Carol S.
05/03

E ir.

Mirei.

Pude enxergar nos meus olhos a história de quem tem muito o que ver.
Eu pude ver em meus pés os passos da caminhada que ainda está por vir.
Eu vi no meu peito a coragem e a força de quem teria muitos medos a enfrentar.

Sequei as lágrimas que escorreram por algo que ainda não aconteceu.
E ouvi as risadas de uma piada de alguém que ainda não apareceu.
Eu me vi deixando tudo que eu conheço.
Reconheci a necessidade de recomeçar.
E vi no meu passado a base inteira pro amanhã.

Tempo de mudar.
De deixar ir quem não soube como amar.
De partir de um lugar que não me permite ficar.
De silenciar tudo que eu quis gritar aos ventos.

Me encarei uma última vez.
Antes de ir: lembrar como cheguei. O que passei. O que escolhi e o que fiz.

"E aí... Valeu a pena?"



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Passagem

E quem sabe um dia a gente se reencontre, daqui uns anos ou em outra vida.
Pode acontecer da gente se trombar e reconhecer aquela essência das histórias e risadas já vividas e quem sabe até seja retomada aquela nossa sintonia...
Um dia depois de um suspiro, talvez você me olhe nos olhos e diga aquele "sim" que você nunca conseguiu dizer. E talvez, um dia, eu até o diga também.
Pode ser que depois de tanta despedida chegue o dia de ficar. Chegue o dia em que os planos sejam feitos em par, pra dois e por nós.
É... Nunca se sabe. O "talvez" nunca dura muito e mesmo assim pode pesar mais do que qualquer "pra sempre". O mundo tem dessas.
Um dia o "tudo" pode ser "pouco" e o "perto" pode ser "nunca".
E até lá, se cuida, porque eu sei que nenhuma história acontece em vão.
O infinito espera à mim e à você, mesmo que não haja "nós".
Por agora, eu vou sobreVIVER!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Sem volta

E não venha me dizer que não, pois eu sou testemunha de que a mágoa é capaz de afastar o amor.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Cósmica


Me ponho nua
E entrego à Lua 
A luz que dura
Em essência pura. 

Que tudo flua
E nada influa
Na relação 
Entre universo e Ser. 


terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Pra onde vão os Anjos?

E talvez os anjos sejam aqueles que nos ajudam no tropeço, nos levantam da lama, nos arrancam risos leves durante o caos.
Anjos que nos ouvem, nos veem chorar as lágrimas mais doloridas e nos acolhem em seus braços quando estamos prestes a desabar.
São os que seguram nossas mãos durante os tempos de neblina. São os que nos vem com os olhos de Amor.
Anjos que nos cuidam como se fossemos pequenas partes deles mesmos e quando nossas asas estão novamente inteiras, eles nos lembram de como é voar.
Anjos.
A força pra um recomeço.
Um colo de esperança...
E quando tudo começa a se reencaixar, quando tudo parece voltar aos seus conformes... Pra onde vão? Quando foi que o perdemos de vista?
... Ei. Agradeça teu anjo. Lembre dele sempre que puder, tá bem? Mesmo que ele tenha ido curar um outro par de asas feridas. Porque talvez a tarefa dos anjos seja essa. Reerguer, curar, fazer voltar a enxergar. Fazer você lembrar que existe um céu inteiro a desbravar. E quem sabe esse tempo limitado seja o tempo necessário e fim. Talvez. Não sei. Ainda assim...
... Ame(é)m.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Lençóis

Sinto falta do seu cheiro e só.
Na verdade, nem sou eu quem sente, são meus lençóis.
Eu, particularmente, não sinto nem um pouco sua falta.
Não tenho a mínima saudade de teus atrasos e inseguranças, muito menos de tua incapacidade de decisão.
Não sinto falta dos teus receios, das tuas dúvidas nem daquela cara ansiosa de quando você quer me dizer "não".
Eu nem gosto mesmo do teu jeito, aquela mania de me fazer cócegas até eu perder o fôlego, de me tirar o cobertor durante a noite ou de roubar batatas fritas do meu prato.
Na verdade tanto faz tua falta de foco, aquela em que tu para de me ouvir e fica me olhando, sorrindo pra mim.
Eu nem faço mais planos pra nós dois se quer saber. Não penso mais naquele apê, naquela viagem, no nome do nosso cachorro nem em surpresas pro mês de julho.
Eu já esqueci do seu toque, do teu beijo em meus quadris, do afago nos fios soltos do meu coque.
Não faço mais questão do frio na barriga que me causa quando chega nem do vazio que me aparece quando se despede.
Não me lembro mais daquele sorriso escondido, daquele carinho de bom dia nem do teu colo em noites de frio. Eu já nem sei das ligações que duravam horas, dos beijos na chuva, dos encontros na madrugada.
Eu não sinto falta do seu "eu te amo". Não mesmo. Nenhum deles. Muito menos de quando eles vinham ao pé do ouvido.
Não ligo de não te ver várias vezes na semana, de desviar o percurso pra ficar mais tempo junto, de fugir escondidos dos olhos curiosos.
Não penso mais nos dias em que me achava no teu caderno de versos, em quando escondíamos mensagens no quarto um do outro, em quando a luz do sol poente refletia nos seus olhos.
Já esqueci do som da sua risada de domingo, dos cafés da manhã as três da tarde, do sossego raro dos dias tranquilos.
Eu não sinto mais a sua falta de maneira alguma. Sentir sua falta significaria lidar com sua ausência diária, com a impossibilidade dos dias, com o futuro frágil. Por isso decidi não mais sentir saudades suas. Decidi não mais tremer as pernas a cada beijo seu. Não mais sorrir em plenitude depois daquela silenciosa conversa de olhares. Não permitirei tua entrada em meus sonhos e fica proibido o coração acelerar ao lembrar de nós dois em momentos de paz.
Enquanto isso gostaria de voltar ao assunto e falar da saudade que meus lençóis tem do seu cheiro. Não os culpo. Um dia eu também gostei do seu perfume se transferindo à minha pele. Mas já passou, claro. Saliento que não tenho nada a ver com isso, por mim você poderia ficar onde está. Mas é que meus lençóis estão amarrotados e não sabem bem como voltar as dobras intactas de antes. Não sei o que tu fez, mas eles gostam de você. Por isso eu peço que venha matar a saudade de nós dois. Não por mim, mas claro, pelos meus lençóis.