sábado, 28 de fevereiro de 2015

A desconexa história sobre dois.

O frio na barriga, o arrepio.
O anseio e a saudade.
O receio e a vontade.
A conversa solta.
A confusão.
A confiança.
A confissão.
É certo manter o olhar ali por tanto tempo?
O olhar desviado.
A vontade de olhar mais.
Um sorriso perdido no escuro de um quarto.
Ou seriam dois?
(sorrisos ou quartos?)
Um sonho.
Quantas noites?
O pensamento sem freio.
Quando acorda, quando come, quando ri, quando ouve, quando canta, quando lembra.
Planos?
Quando nega.
As mãos inquietas. Por que?
A preocupação.
O cuidado e o afeto.
O colo e o apoio.
O aconchego.
O alívio.
A desculpa e a compreensão.
A leveza de uma risada a dois.
Das gavetas que guardam os versos, as rimas, as cartas e canções.
Sabem guardar segredo?
O bom dia e o boa noite.
A criatividade pro silêncio.
Com quantas horas se faz uma madrugada?
As palavras gaguejadas.
As palavras pontuadas.
As palavras que enrubrecem.
A inexistência de palavras certas.
As surpresas.
O coração que acelera.
"Se aquieta!"
A vontade de ficar perto.
De dizer e de escutar.
Um, dois, três sorrisos.
Uma causa:
Qual? 
O que? 
Quem?

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Pensamentos apenas.

Eu realmente acredito que os laços que criamos com as pessoas são eternos.
Acredito que uma vez que nos ligamos ao outro, construímos uma via de mão dupla ligando uma alma à outra. Uma estrada que serve para a permuta de sentimentos e pensamentos entre as duas pessoas.
Dependendo de como essa relação se desenvolve, essa via pode se estreitar ou  se alargar. Há estradas amplas, arborizadas e movimentadas. E as vezes  há algumas que ficam um pouco abandonadas, com algumas rachaduras e buracos. Além do mais, uma pode se transformar na outra e vice versa. Mas uma vez conectadas, duas pessoas não podem interditar essa ligação.
Pois bem. Consequentemente acredito muito que, mesmo abandonados, esses caminhos trazem algum movimento de vez em quando.
Aqueles pensamentos que parecem vir do nada, lembranças reativadas ou sonhos há muito tempo (muito tempo mesmo! ) não sonhados. E sinto que quando isso acontece é porque uma extremidade da via ativa a outra. O porquê desses súbitos momentos de recordações acontecerem, eu não sei. Muito menos qual extremidade ativa a outra. Sei que, por ser uma mão dupla, os dois lados são afetados.
Fico pensando entre devaneios se aos poucos, por mais destruída que a estrada esteja, um dia pode ser que florzinhas nasçam entre uma rachadura ou outra. Quem sabe, mesmo abandonada, volte a ser bela.
Fico pensando apenas.
Porque há estradas que precisam ser abandonadas... Mas não necessariamente esquecidas. E quando forem lembradas, que tragam os sorrisos das bonitas paisagens e não os chacoalhões do asfalto mal cuidado.

... Só pensando...

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Passa-rindo

Chegou de manso na varanda, visitou o meu jardim.
Beijou as minhas flores, me falou de suas dores, cantou baixinho para mim.
Aqui por perto fez seu acampamento de barro.
Contou-me suas aventuras, seus devaneios, desejos e anseios.
E de repente, sem querer, sem perceber e sem mais nem menos, lá estava eu, perdida no seu amarelo-canário.
Leve, passei a segui-lo pelo dias,  assoviando por aí.
No dia a dia, eu era reco reco e ele era tico tico. Éramos quero quero.
Criei e reinventei. Descobri e me libertei.
E decidi.
Pra que viver no chão se dá pra apostar corrida com a lua, voar contra o vento até o amanhecer?
Perdi o medo e dei a asa a tapa.
Machuquei-me. Doeu todas as vezes que tentei sair do chão.
Mas aprendi a ver enCanto em cada tentativa de vôo.
Cai-n-Cantei.
Sol... brilha Lá Si Doer.
Refém, Mi Faz.
Refém me fez.
Eu não tinha mais escolha. A terra não bastava mais.
Ele me olhou. Ele sabiá. Ele sempre soube. E agora eu tinha aprendido que também tinha nascido pra voar.
Subi até o topo do lugar mais alto de todos.
Tomei coragem.
Tomei impulso.
Pulei!
E logo o vento veio me beijar!
A brisa me acomodou.
VOEI!
E quase que em piruetas, ele me alcançou. Riu uma nota Si e me envolveu no calor de uma clave de sol.
Planei. Libertei-me.
Enfim plena. Enfim livre.
Enfim lua, sol e estrela.
Meu ninho era o céu. Meu passarinho era ele.
Obrigada por vir me buscar. Ainda bem que te vi.
Eu te amo, meu doce Colibri.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Lá de cima, ali de baixo

Hoje subi até a pedra mais alta.
A quilômetros do chão e a quilômetros do céu.
É o lugar onde a cabeça nas nuvens toca a terra e o pé no chão alcança as estrelas.
O meio termo entre o sol e a flor.
Uma linha tênue entre o seguro e o perigoso.
E durante um minuto inteiro (um minuto inteirinho!) eu não quis sair de lá nunca mais.


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

A flor, a Balança e a Certeza .

A flor que há pouco estava em seus cabelos, agora repousava sobre a mesa, servindo de modelo para o desenho. Os traços confundiam-se com o aroma. Ela começava a murchar (a Moça ou a flor?).
A concentração e foco corria do papel pras pétalas numa velocidade e precisão rara. Porém sua mente era puro devaneio.
Lembrou-se do calor daquelas mãos perto de seu rosto. Não eram as mãos certas. Não era o calor que ela queria. Não eram as palavras que lhe prendiam o fôlego. Mesmo assim, naqueles olhos havia uma doçura quase que inocente. Quase confortável. Quase compreensíveis. Quase. 
A ponta do lápis quebrou.
Obviamente não fazia ideia de onde estava o apontador.
Suspirou. Cruzou os braços sobre a mesa e descansou a cabeça neles. Desistiu do desenho.
- Sabe... O "e se..." pode ser aterrorizante. As vezes a gente precisa saber ouvir os sinais que os sorrisos dão...  É o que você diz. - Afastou-se dela. Encarou o chão também. - Mas é preciso arriscar. Saber ouvir o que nosso corpo, nosso cérebro e nosso espírito tentam dizer pro nosso consciente. Quer dizer... Me falta um violão, poesia e suas fitas. Mas me sobra fé. Me sobra vontade. Me sobra sorrisos quando penso em você. 
Manteve-se em silêncio. 
A cabeça latejava. Parecia gritar. Mesmo assim, ergueu-a novamente pra encarar a flor, mas em poucos segundos já não olhava mais nada. O olhar perdeu-se no caminho, dentro de si mesma.
... É uma balança no final das contas? Escolhemos o lado que pesa mais? Se fosse isso, com certeza a balança dela estaria desregulada, pois pesava palavras, momentos e pensamentos que não levariam a lugar nenhum... Faltava coragem na calibragem de sua balança. Coragem que não tinha e que não viria.
O que dizia o coração?
- Primeiramente, pra parar de ser tola e aceitar as circunstâncias.
Não, espera. Esse era apenas mais um grito de sua cabeça.
- Talvez pra parar imaginar coisas que não existem. Parar de esperar o que não vem.
Não. O coração dificilmente põe freio no que quer que seja. Principalmente na esperança.
- Dar uma chance pro que estava ao seu alcance então... Possibilitar o possível...
Respirou fundo.
Não tinha por que tentar cruzar caminhos paralelos.
"E por que tanta certeza?"
O eco da frase atingiu-lhe como um soco. Aquela voz. Aquela pergunta. Soltou o ar que lhe pesava mil toneladas, quase num desabafo fingido de meio-sorriso:
- Porque nos falta coragem. - ela respondeu baixinho, como se as memórias pudessem lhe ouvir.
Batucou o lápis sem ponta.
Descartou a imagem da balança (embora ela fosse muito útil pra maioria das pessoas fazerem suas escolhas, como ela bem sabia).
Olhou pra flor.
Pensou nas madrugadas em claro.
E decidiu-se.