terça-feira, 8 de agosto de 2017

Crônicas da madrugada #2

Eu mantinha os olhos fechados, distraída. O silêncio ocupava todo o espaço de forma confortável e eu sentia uma brisa muito leve tocando minha pele... Já era fim de tarde e os últimos resquícios de sol aqueciam o cômodo.
- Você ainda nos ama?
Despertei.
- Que?
Mas eu havia ouvido bem.
- Você ainda nos ama?
Pisquei algumas vezes e vi aquele par de olhos me encarando, aguardando.
Parecia que algo em meu peito começava a dar um nó.
Como as pessoas são capazes de exigir uma resposta tão generalizada pra algo tão infinito?
E então os olhos se desviaram dos meus e se voltaram ao chão.
Me aproximei devagar. Dei-lhe um beijo em sua nuca, abracei-lhe pelas costas e segurei suas mãos. Fiquei em silêncio ouvindo sua respiração. Recebi um afago de dedos. Um suspiro.
- Não. Eu "ainda não nos amo" mais.
A frase soou estranha, notamos logo.
- Dizer que "ainda" nos amo, seria dizer que ainda mantenho hoje o amor que sempre senti por ti.
Os olhos voltaram a me fitar, confusos.
- Eu nos amo. Mas não é um "ainda". É um diferente. Os dias são outros. O amor também...
Os olhos não pareceram contentes, mas também não pareciam surpresos. Sabíamos que tudo havia mudado tanto quanto sabíamos que algo permanecia intacto. No fundo sabíamos que era tarde demais pra recuperar o que se perdeu, mas também sentíamos que todo o reencontro trazia o ar de nova chance.
Algumas histórias não tem continuidade, mas possuem inúmeros capítulos pra adiarem seus fins. Isso nem sempre é o suficiente, mas as vezes é inevitável.