sábado, 18 de março de 2017

Desapego


No meio do reboliço, me escapuliram duas ou três frases que antes eu trancava quietas em pensamento.
Parei imediatamente. Encarei-as na minha frente, materializadas em alto e bom som.
Os falatórios barulhentos continuaram, mas eu apenas parei. Percebi que eram palavras que eu havia dito pela primeira vez, apesar de não serem novas pra mim.
Estava surpresa. Em realidade eram muito menos caóticas do que em minha mente.
Era quase meia noite quando as estrelas reapareceram num lampejo de íris.
O peito estufou e o passo acalmou
"Então é isso?"
Uma leveza concedida à consciência
E uma sutil sensação de desobrigação...

Era aquela saudosa sensação de recomeço
Que dava vida nova à qualquer destrutivo ponto final.


quarta-feira, 15 de março de 2017

domingo, 5 de março de 2017

Margaridas Douradas

Me fiz silêncio.
Silenciei tudo.
Como estão as coisas aqui em casa,
Como estava minha correria,
Como tinha sido meu dia.
Eu calei os gritos que quis dar quando descobri o que você não dizia.
Eu fingi que as coisas continuavam do jeito que você deixou.
Eu evitei o máximo que pude.
Até que notei que meu esforço em silenciar era na verdade uma rotina daquele que não tinha nada mais pra me dizer.
Que insensatez assumir os remos de quem já desistiu de navegar.

Tudo isso pra que?
Pra acabar enfim.
Eu tentei dizer.
E aí eu vi que a única incomodada era eu.
Pois bem.
"Estes, que se retirem então."

- Margaridas Douradas -
Carol S.
05/03

E ir.

Mirei.

Pude enxergar nos meus olhos a história de quem tem muito o que ver.
Eu pude ver em meus pés os passos da caminhada que ainda está por vir.
Eu vi no meu peito a coragem e a força de quem teria muitos medos a enfrentar.

Sequei as lágrimas que escorreram por algo que ainda não aconteceu.
E ouvi as risadas de uma piada de alguém que ainda não apareceu.
Eu me vi deixando tudo que eu conheço.
Reconheci a necessidade de recomeçar.
E vi no meu passado a base inteira pro amanhã.

Tempo de mudar.
De deixar ir quem não soube como amar.
De partir de um lugar que não me permite ficar.
De silenciar tudo que eu quis gritar aos ventos.

Me encarei uma última vez.
Antes de ir: lembrar como cheguei. O que passei. O que escolhi e o que fiz.

"E aí... Valeu a pena?"