segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

A flor, a Balança e a Certeza .

A flor que há pouco estava em seus cabelos, agora repousava sobre a mesa, servindo de modelo para o desenho. Os traços confundiam-se com o aroma. Ela começava a murchar (a Moça ou a flor?).
A concentração e foco corria do papel pras pétalas numa velocidade e precisão rara. Porém sua mente era puro devaneio.
Lembrou-se do calor daquelas mãos perto de seu rosto. Não eram as mãos certas. Não era o calor que ela queria. Não eram as palavras que lhe prendiam o fôlego. Mesmo assim, naqueles olhos havia uma doçura quase que inocente. Quase confortável. Quase compreensíveis. Quase. 
A ponta do lápis quebrou.
Obviamente não fazia ideia de onde estava o apontador.
Suspirou. Cruzou os braços sobre a mesa e descansou a cabeça neles. Desistiu do desenho.
- Sabe... O "e se..." pode ser aterrorizante. As vezes a gente precisa saber ouvir os sinais que os sorrisos dão...  É o que você diz. - Afastou-se dela. Encarou o chão também. - Mas é preciso arriscar. Saber ouvir o que nosso corpo, nosso cérebro e nosso espírito tentam dizer pro nosso consciente. Quer dizer... Me falta um violão, poesia e suas fitas. Mas me sobra fé. Me sobra vontade. Me sobra sorrisos quando penso em você. 
Manteve-se em silêncio. 
A cabeça latejava. Parecia gritar. Mesmo assim, ergueu-a novamente pra encarar a flor, mas em poucos segundos já não olhava mais nada. O olhar perdeu-se no caminho, dentro de si mesma.
... É uma balança no final das contas? Escolhemos o lado que pesa mais? Se fosse isso, com certeza a balança dela estaria desregulada, pois pesava palavras, momentos e pensamentos que não levariam a lugar nenhum... Faltava coragem na calibragem de sua balança. Coragem que não tinha e que não viria.
O que dizia o coração?
- Primeiramente, pra parar de ser tola e aceitar as circunstâncias.
Não, espera. Esse era apenas mais um grito de sua cabeça.
- Talvez pra parar imaginar coisas que não existem. Parar de esperar o que não vem.
Não. O coração dificilmente põe freio no que quer que seja. Principalmente na esperança.
- Dar uma chance pro que estava ao seu alcance então... Possibilitar o possível...
Respirou fundo.
Não tinha por que tentar cruzar caminhos paralelos.
"E por que tanta certeza?"
O eco da frase atingiu-lhe como um soco. Aquela voz. Aquela pergunta. Soltou o ar que lhe pesava mil toneladas, quase num desabafo fingido de meio-sorriso:
- Porque nos falta coragem. - ela respondeu baixinho, como se as memórias pudessem lhe ouvir.
Batucou o lápis sem ponta.
Descartou a imagem da balança (embora ela fosse muito útil pra maioria das pessoas fazerem suas escolhas, como ela bem sabia).
Olhou pra flor.
Pensou nas madrugadas em claro.
E decidiu-se.