quarta-feira, 22 de junho de 2016

Caixa de Pandora


Sentia-se parte de lugar nenhum.
Via-se como peças tortas de um todo confuso demais.
Dificilmente as coisas se mantinham em ordem e os dias permaneciam com sentido.
Era fácil demais perder-se em si. Era fácil demais querer ir embora de um lugar que não se encaixa.
Até que esbarrou em outro alguém. Alguém que expôs uma realidade tão sinuosa quanto a sua.
Sem muita escolha, os caminhos retorcidos foram misturando-se.
Passaram a caminhar juntos por aqueles percursos. Reconhecendo o novo. Dividindo os passos fatigados. Conhecendo as paisagens do outro. Contemplando a singularidade existente naquela caminhada que lhes parecia tão familiar. As vezes não sabia-se mais qual era emaranhado de quem. Era um labirinto.
Um labirinto onde estranhamente sabiam o caminho... Pela primeira vez.
Com muita tentativa, alguns erros e tantos acertos passaram a entender a confusão do outro. Passaram a cuidar da travessia do outro. Passaram a enxergar que faziam parte que algo essencial, especial e único. Algo que só eles entendiam.
Pela primeira vez entenderam que suas peças tortas eram partes de um mesmo quebra cabeça que só agora passara a se completar. Só agora passava a fazer sentido, criar imagens.
Era naquele labirinto que sentiam-se encontrados.
Era encaixando suas peças que entendiam que estavam no lugar certo.
A cada curva do labirinto, descobriam um novo pedaço do quebra cabeça. Havia magia e encantamento nos becos e passagens, quando descobriam peças novas que se encaixavam. Quando descobriam que juntos, até a curva mais torta, era bonita.
O tempo foi passando.
Tinham a leve impressão que seu quebra cabeças não tinham fim. Que seu labirinto não tinha saída. Mas eles também não tinham pressa.
E ali estava a maior bênção ou a maior maldição dos dois.