segunda-feira, 1 de julho de 2019

Breve eterno

Me olhava com a desconfiança de quem teme mais uma última vez, mas ainda assim já a espera.
Transbordava em silêncio os sentimentos barulhentos.
Guardou meu rosto em suas mãos e aproximou-se tanto que nossos cílios se beijavam.
Então me sussurrou meia dúzia de palavras nas quais fiz questão de ecoar em minha memória afim de torná-las permanentes.
A trouxe ainda pra mais perto, mais comigo. Mais nós.
Fechou seus olhos enquanto me abraçava. Morou em mim um pouco mais.
Ela não era minha. Ainda assim, ali, eu não pretendia deixá-la ir. E não queria dizer que eu não podia mais ficar.
Quando voltou a me observar, havia um sossego despreocupado. Olhar seguro de quem desafia o inevitável.
Me deu mais um sorriso como se concebesse a possibilidade de um infinito limitado.
Entrelaçou os dedos aos meus e me deu o beijo mais terno que já recebi.
Éramos um futuro que não nos pertencia num presente que se confundiu.
Um contratempo extasiado de quem não estava procurando pelo amor.