quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Sete dias de cheia

Eu afastei tudo que me fizesse sentir saudades de você. Evitei suas camisetas, o cd do Los Hermanos. Evitei teu cheiro, evitei olhar pro céu, evitei lanchonetes e restaurantes. Não abri a caixa de fotos que fica na gaveta, não li meus antigos poemas. Evitei passar pelos lugares que abrigaram noites de frio, evitei falar sobre os planetas e sobre as estrelas. Eu fiz de tudo pra não checar as mensagens do celular, eu tentei não pensar no tempo. Eu evitei um lado da cama e me neguei a falar de amor. Eu me esforcei, eu juro. E me dei conta de que eu poderia evitar trajetos, conversas e vontades e ainda assim, eu estaria sentindo sua falta. Porque tu tá impregnado na minha alma como o cheiro de chuva no asfalto quente, como o cheiro de café pela manhã.
Eu quis falar pra você do cachorrinho de 3 patas de vi na segunda feira.
Você foi o primeiro que eu quis contar sobre minha publicação na revista.
Eu quis te ligar quando senti medo no sábado.
Eu queria ter falado do sonho que tive noite passada.
Eu quis fazer uma piada com o que você disse sobre o Ramones.
Eu tentei fingir que não pensei em você nos últimos dias.
Tentei fingir que não senti sua falta o tempo todo.
Eu queria não estar pensando em você quando eu estava no ônibus essa tarde. E eu queria não precisar segurar o choro quando justo nesse momento tocou Rubel nos fones. Eu queria, eu tentei, mas não consegui.
Eu queria não ter mentido quando respondi ‘tudo bem’ quando você me perguntou como eu estava.
Eu queria ter pensado em qualquer outra coisa nos últimos dias que não fosse o calor que existe quando você tá aqui.

Eu queria, juro que o que eu mais queria nesse momento era saber não sentir sua falta, mas ainda não sei fazer isso. Não sei nos ver com a tranquilidade de quem não tem urgência de viver. Não sei não ter o coração palpitando acelerado, não sei evitar o frio na barriga que dá ao pensar em te encontrar na rua sem querer. Eu não sei como fazer pra não querer te ter por perto, como fazer pra não querer dividir as coisas com você. Eu não aprendi a arranjar inúmeras prioridades que venham antes de ti. Eu não aprendi a não ficar ansiosa pra te ver. Eu esqueci como é fazer planos pros meus dias sem te incluir. Meu deus, como é estranho sentir-se só assim. E o pior de tudo é que a única forma de aprender a fazer diferente envolve você também. Porque pra mim é difícil entender como se cultiva amor sem regá-lo com paixão. Me ensina ou então me ajuda nesse jardim... Mas vem logo porque depois de toda cheia, vem a seca impiedosa.