Ingênuo és tu!
Ah se pudesses ver teus olhos delatando-o descaradamente!
Tua voz vacilando discretamente a cada fim de frase ensaiada.
E ainda repetes inúmeras vezes as mesmas garantias débeis e
cegas.
E me ferem essas falsas verdades usadas como lençol praquilo
que chamas de proteção. Proteção? Até que ponto as palavras são capazes de
proteger-nos?
Até onde os argumentos conseguem ser convincentes o bastante
pra provarem que insignificâncias realmente não carregam valor nenhum? Afinal,
omitir essas tais insignificâncias não atribui instantaneamente a elas uma importância
considerável?
E se soubesses que antes mesmo de que tu pensasses em
recriar os fatos, eu já sabia das tuas verdades por inteiro, nuas e cruas?
Sufoca-me fingir que aceito tuas palavras, que creio em tudo
o que me diz.
Ah se as palavras fossem o único instrumento da verdade! E
se a verdade nos fosse exposta sem rodeios? Se não houvesse barreiras ou
limites? Nem bom senso ou altruísmo? Como
reagiríamos a verdade constante e sem freios?
Quando algo omitido torna-se uma mentira?